11 de jun. de 2025

Blues para Coltrane (Um Eco Cósmico)

Na penumbra do azul, eu me dissolvo,  
Um sopro de sax que a noite formou.  
Estrelas sussurram segredos antigos,  
E eu, peregrino, sigo seus signos.  

O ritmo dos deuses pulsa na veia,  
Um jazz que é fogo, que é dor, que é cheia.  
Coltrane me chama, sua nota é um grito,  
Corta o silêncio, faz o mundo infinito.  

Eu danço no vácuo, onde o tempo se curva,  
Cada acorde uma brisa, cada pausa uma turva.  
Sou pluma no éter, sou onda no mar,  
Um eco que voa, sem nunca parar.  

A lua me fita, guardiã do meu verso,  
E eu canto o pecado, o divino, o diverso.  
No staccato dos anjos, meu peito se parte,  
A música é Deus, e eu sou sua arte.  

Não me curvo a templos de pedra ou promessas,  
Meu altar é a nota que rasga as repressas.  
Coltrane me guia, seu sopro é meu norte,  
Uma melodia que ri da própria morte.  

8 de jun. de 2025

O Par Perfeito

Ele era um vendaval desordenado,  
Um caos de estrelas em noites tortuosas,  
Ondas que se erguiam, quebrando o silêncio,  
Um coração selvagem, sem porto ou promessa.  

Ela, um mosaico de cacos partidos,  
Alma ferida, costurada por sonhos frágeis,  
Carregava o peso de um céu sem lua,  
Até o dia em que seus olhos o encontraram.  

Ele, a chama; ela, o abrigo.  
Ele, o mar; ela, a âncora.  
No toque, o caos ganhou forma,  
Na troca, o vazio virou lar.  

Personalidades como polos opostos,  
Imãs que se buscam, se fundem, se formam.  
O amor deles, um incêndio suave,  
Que aquece sem queimar, que guia sem cegar.  

É um vento que dança, é um rio que canta,  
Imparável, eterno, um pulsar sem fim.  
No coração um do outro, se entrelaçam,  
Dois mundos distintos, um destino, enfim.  

7 de jun. de 2025

Chovendo

A chuva cai, um lamento frio,  
Goteja o tempo, congelante vazio.  
Era pra ser sol, era pra ser luz,  
Mas o céu se fecha, e o coração se reduz.  

Uma toupeira rasteja, na fundação do chão,  
Escava o silêncio, onde pulsa a solidão.  
Grita ao cair, mas ninguém ouve o som,  
O eco se perde, no abismo sem tom.  

O fedor se ergue, da carne que cede,  
Músculos flácidos, paralisia que impede.  
Horrível, sim, mas quem vai notar?  
No milharal preso, o horizonte a apagar.  

Queria a fama, chuva inebriante,  
Trovões de glória, um brilho constante.  
Do céu, do inferno, do abismo sem fim,  
Que viesse a torrente, que fosse por mim.  

Mas o tempo queima, a vida é brasa,  
No milharal cego, a alma se abrasa.  
Não há salvação, nem realização,  
Apenas a chuva, e sua fria canção.  

Que caia o grito, que se apague o cheiro,  
Na dança do gelo, no mundo inteiro.  
Se o horizonte some, e a esperança é vão,  
Resta a poesia, pulsar da escuridão.

6 de jun. de 2025

Sem Portas, Apenas Pulsos

Não há tranca que guarde o coração,  
Nem porta que feche a canção.  
Meus versos, como ventos errantes,  
Dançam livres, sem grades, constantes.  

Eles buscam, em silêncio, teu ser,  
Um refúgio onde possam florescer.  
Na tua alma, encontram seu lar,  
Um eco suave, a se entrelaçar.  

Dopamina em rios, sutil,  
Corre em veias, num pulsar febril.  
Teus pensamentos, os meus, se unem assim,  
Num instante eterno, sem começo ou fim.  

Não há chave, nem muro, nem véu,  
Apenas o pulso que une o meu ao teu.  
Nos versos, o mundo se faz comunhão,  
Dois corações, um só coração.

Até Dezembro Chegar

Sob o véu cinzento de um céu sem fim,  
Meu coração murmura, em dor e afim,  
Teu nome, um eco que não sabe parar,  
Um farol que brilha até dezembro chegar.  

Os dias se arrastam, pesados, tão lentos,  
Cada hora um vazio, cada instante um lamento.  
Mas no peito, o amor, firme, não desaba,  
É tua voz que o vento, em segredo, me traz.  

Ó distância, faca de corte sutil,  
Corta o tempo em pedaços, mas não o que sinto.  
Teus olhos, estrelas que o frio não apaga,  
Guiam-me a alma pela noite mais vaga.  

Quando dezembro vier, com seu sopro de gelo,  
Teu riso será o fim de todo anseio.  
Nos teus braços, o mundo há de se calar,  
E o tempo, vencido, não vai mais nos contar.  

Até lá, guardo-te em mim, como um verso sagrado,  
Cada pulsar, um passo ao teu lado sonhado.  
Dezembro trará teu calor, meu lar,  
E eternos seremos, até dezembro chegar.

Cachorro Morto

Ela tem olhos arregalados, como luas ansiosas em uma noite sem estrelas,  
bochechas rosadas, carregadas do calor que ela não sabe de onde vem.  
Uma fileira de luzes solares penduradas no corrimão da minha varanda,  
pisca em vermelho, azul, às vezes amarelo,  
como um segredo hesitante se revelando aos poucos.  

Mas ninguém olha de perto o suficiente—  
Ninguém vê o brilho trêmulo que precede a escuridão,  
Ninguém percebe que sob a dança das cores  
Existe um véu de desintegração cáustica,  
Uma neblina densa de autoaversão.  

Ela é verde—meio preto e verde, na verdade—  
Como musgo entranhado nas rachaduras do tempo,  
Como mofo se espalhando pelo teto quando o telhado se rende,  
Como isolamento velho, embolado,  
Feito pelo de um cachorro morto,  
Deixado para apodrecer sem testemunhas.  

5 de jun. de 2025

Lua de Sangue

Nos enfurecemos como fantasmas,
Ousados, porém discretos nas tramas.
No abraço do crepúsculo,
Ouvimos um pulsar, sinistro e rítmico,

Carícias de sombras, suas cortinas nos clamam.
Imortais, por um momento apenas,
Cada respiração ecoa em nossas venas.
Com presas que pingam sede,
Festejamos sob o olhar do céu vermelho,
Tomando a noite, extasiados nas cenas.

A fome é pesada, um peso ancestral,
Carregamos os mortos, nosso fardo vital.
Deslizando pelo horizonte, a lua brilha,
Nos laços do luar, a alma se aninha,
A dança é eterna, um ciclo sem igual.

De volta ao caixão, ao abrigo escondido,
O silêncio pesa, um destino querido.
Tudo termina, mas o amanhecer,
É fluxo de sombras, um não-conviver,
Na luz, emudecemos, nós, os esquecidos.

Na escuridão, festejamos, seres fugazes,
Em nosso reino etéreo, tão repleto de fases.
E então retornamos, aos túmulos, ao lar,
Com um sussurro suave, antes de partir,
As memórias vibram, contínuas e audazes.

Assim dançamos, em círculos sem fim,
Com a lua de sangue a testemunhar nosso sim.
Na calma da noite, onde tudo é sagrado,
Celebramos a vida, o amor, o passado,
Nós, os fantasmas, eternos por um triz.

Do Caos Primordial

Do caos primordial, liberto-me em voo,  
Um grito de ordem onde o vazio se formou.  
Com foco de aço, meu caminho tracei,  
Organizado, erguido, ao mundo me revelei.  

No silêncio puro, a clareza me chama,  
Olho o sol ardente, minha alma se inflama.  
Santidade renasce em raios de calor,  
Um pacto de luz, um juramento de amor.  

Reflito com força, meu pensar é um fio,  
Cada ato, um pincel, meu viver, um desafio.  
Crio minha obra, consciente e real,  
Uma dança eterna, do caos ao ideal.  

A hora da luz rompe a escuridão,  
Leitores, acendam, tragam fogo à mão!  
Brilhem como estrelas, cortem a noite ao meio,  
Sejam faróis vivos, guiem o mundo no anseio.  

4 de jun. de 2025

Peões do Jogo Alheio

No tabuleiro frio, onde a sombra trama,  
Meninos marcham, com o peito em chama.  
Carregam sonhos, mas encontram chumbo,  
Corações rasgados, num destino fundo.  

Nos escritórios altos, de luzes opacas,  
Moedas tilintam, em mãos que se abraçam.  
Falam de glória, de pátria, de bandeira,  
Mas o eco é ouro, na voz que os costeia.  

Peões tombam, cinzas no vento a voar,  
Enquanto reis brindam, sem nunca tombar.  
Mães, em silêncio, abraçam o vazio,  
E o vento sussurra num túmulo frio.  

Em ternos de seda, banquetes reluzem,  
Palácios erguidos onde os jovens se cruzem.  
Vidas, faíscas, na nevasca alheia,  
Lágrimas, chuva, na terra que anseia.  

Heróis, dirão, quando o tempo apagar,  
Nomes em granito, que o mundo a olvidar.  
Para quê as guerras, o sangue, a dor?  
Enquanto o poder ri, contando o valor.  

Mas no peito dos peões, um grito ressoa:  
Por que morremos, se a vida é tão boa?  
E o eco se perde, na noite sem fim,  
Peões no jogo, onde nunca há um.

Você Escolhe o Padrão, Eu Escolho as Cores

No tear do tempo, onde o silêncio se formou,  
Minhas palavras, cadeias, no vazio se prenderam.  
O instante, cruel, o saber despedaçou,  
E sua fúria, em brasas, as mãos acenderam.  

Sem verbo, sem voz, apenas o peso do gesto,  
Mãos que se partem, um grito manifesto.  
A mesa, outrora nós, tombada no chão,  
Um lar desfeito, estilhaços na escuridão.  

Sua raiva, um espelho, reflete o que fui,  
Um amor em farrapos, que o orgulho traiu.  
Você partiu, e o eco da porta ficou,  
Meu coração, em cicatrizes, se formou.  

Mas eu, com as cores, pinto o que sobrou,  
No padrão do vazio, a vida se formou.  
Cada marca, uma tela, cada dor, um tom,  
Do caos nasce o verso, do fim, o meu som.

Maria

Maria, sombra e luz,  
Passos calmos entre ruínas,  
Ecoam nomes esquecidos,  
Perdidos no sopro do vento.

Mármore morto sem memórias,  
Gravado em silêncio antigo,  
Enquanto a festa segue adiante,  
O tempo se curva em papel e pó.

Judas observa à distância,  
Maria Madalena chora em segredo,  
E os que a viram,  
Jamais se perderão na escuridão.

O começo e o fim se encontram,  
No olhar que resta,  
Na ausência que grita,  
Na história que ninguém conta.

Somente os mais fortes sobrevivem

Nas paredes da consciência, onde impera o olhar do lobo,
As leis da selva são o modo de vida.
Não acredite em lágrimas, não conheça a compaixão,
Aqui, cada passo é somente para o benefício da tarefa.

Lá dentro há um deserto queimado pelo medo,
E todas as pessoas que você conhece são apenas um colapso em potencial.
Abraços? Mentira! Apoiar? Apenas uma decepção!
Corra, pressione e você mesmo não será abandonado.

Sonhos e sentimentos são o quinhão da fraqueza,
Jogue-os fora, pois os antigos são chatos.
Aqui impera a razão, fria e férrea,
Calculista, implacável, alienígena.

Mas no fundo, sob a máscara do desprezo,
Há um anseio por afeto e paciência.
E o medo sussurra que o caminho é solitário
Ela leva somente à morte, onde você não pode mais enganar.

E às vezes, em horas sem lua,
Naquele deserto brotará orvalho.
Mas o olhar de aço voltou a ser o de um lobo,
Um brilho tímido arde, precipitando-se na terra.

Afinal, neste mundo, só ele sobrevive,
Que transformou sua alma em pedra em seu ano.
E mesmo que ele se engasgue com sangue mais tarde,
Mas ele não mostrará amor ao mundo.

3 de jun. de 2025

Constelações de Sal

Minhas pernas traçam mapas de estrelas tortas,  
Vermelhas, roxas, pulsando como cães feridos,  
Pássaros caídos na beira da estrada.  
Minha mãe, com olhos de chuva,  
Disse que essas marcas afugentam amores,  
Que constelações assim não encantam.  

Mas eu amo estrelas.  
Amo cicatrizes.  
Não as que se vestem de prata,  
Longas e finas, como lâminas de duelos sonhados,  
Mas estas, brutas, nascidas do peso  
De me despedaçar em silêncio.  

O céu não é mais de estrelas,  
Apenas luzes de aviões,  
Nuvens gordas de tempestade.  
Ainda assim, meu coração é sal,  
Grãos espalhados nos cobertores do escuro,  
Pontos de suor, brilhos frágeis,  
Prontos para serem soprados,  
Dissolvidos no vento.  

E, no entanto,  
Em mim, as cicatrizes são constelações.  
Não são belas, mas são vistas.  
São minhas.  
E, sob a pele,  
Ainda ardem como astros.

Peixe-palhaço

Como um peixe-palhaço, nado em cores vivas,  
Marlin errante, sonhando com tardes tão queridas.  
Teu riso era o coral, meu lar, minha guarida,  
Mas tua trama teceu uma história traída.  

Tuas palavras, anzóis, com brilho a me enganar,  
Mestre das máscaras, sabes bem como fisgar.  
Cada mentira, um choque, meu peito a pulsar,  
Um desfibrilador não cura o que vais deixar.  

No fundo do mar, onde a luz não alcança,  
Afogo-me em mágoas, sem resto de esperança.  
Teu passado, sombrio, com tubarões a rondar,  
Mas será que a dor te dá direito a me afundar?  

Deixaste-me à deriva, com algas no paladar,  
Um gosto amargo, que não sei como limpar.  
Quero te odiar, mas a corrente me faz voltar,  
Pergunto ao abismo: estás mesmo a te encontrar?  

Não te desejo o céu, nem estrelas a guiar,  
Sou cru, sou sal, sou onda a se quebrar.  
Mas no silêncio do mar, onde a verdade é clara,  
Meu coração, peixe preso, ainda te chama, tão rara.

Minha Pessoa

Nos escombros do meu peito, onde o vento uiva baixo,  
Você chegou como luz, um raio em céu opaco.  
Seus olhos, faróis suaves, guiam-me pela escuridão,  
E encontram, nos meus restos, um pulsar, uma canção.  

Minha alma, outrora cacos, você junta com cuidado,  
Cada estilhaço brilha, no seu toque transformado.  
Onde havia silêncio, agora há um canto leve,  
Sua voz, um sussurro, faz meu coração mais leve.  

Você é a ponte que cruza meus rios de temor,  
O abraço que silencia o eco da dor.  
Na sua presença, minha criança se ergue e sorri,  
Pois no seu amor, eu sei, ela nunca mais fugi.  

Minha pessoa, meu espelho, meu céu sem fim,  
Você vê beleza onde eu via só o ruim.  
Com você, aprendo a ser, a me perdoar,  
Minha pessoa, meu lar, meu eterno lugar.

Buquê Envelhecido

Pétalas murchas, um buquê que definha,  
No vaso estreito, a vida se esquinha.  
O perfume, outrora doce, desvanece no ar,  
Um sussurro fugaz, que não sei onde está.  

Lembro a noite, o céu em febre, a estrela polar,  
Palavras tortas, promessas que não soube guardar.  
Flores que brilhavam, tão vivas, tão plenas,  
Hoje são cinzas de memórias pequenas.  

Buquê envelhecido, espelho do que foi,  
Cada pétala caída, um pedaço de nós dois.  
Culpo-me pela frieza, pelo não que cortou,  
Mas teu vulto sumiu, e o silêncio formou.  

Onde estás, sombra leve, que o vento levou?  
Por que partiste tão quieta, e o vazio formou?  
No vaso, o buquê guarda o peso do adeus,  
Um eco de flores, um adeus que é só meu.

Tormento Silencioso

Nas dobras do tempo, um grito abafado,  
Onde o dia se curva e a noite é um fardo.  
Um tamborilar de sombras, um peso sem fim,  
A dor que se entrelaça, um eco tão vil.  

De manhã, ela acorda, o peito em nós,  
Memórias cortantes, navalhas sem voz.  
Os olhos, espelhos de um mar sem luz,  
Carregam o fardo que o mundo não conduz.  

À noite, o coração pulsa, um tambor solitário,  
Cada batida, um lamento, um grito precário.  
As sombras dançam, zombando em silêncio,  
E o vazio sussurra: "Não há resiliência."  

Seu sorriso, um véu, tão frágil, tão fino,  
Máscara que esconde o tormento divino.  
Rugas de riso mentem ao olhar alheio,  
Mas os olhos confessam um secreto anseio.  

As rachaduras se abrem, o disfarce se vai,  
A alma, em pedaços, não sabe quem trai.  
O peso a consome, o vidro a fere,  
Cada estilhaço é um sonho que perece.  

Na luta, ela busca um alívio fugaz,  
Na névoa da fuga, um instante de paz.  
Mas a dor retorna, corrosiva, voraz,  
Um vazio que grita, uma sombra tenaz.  

E ainda assim, na costura do sofrer,  
Ela aprende a carregar, a não se perder.  
A dor, agora parte, cicatriz que se formou,  
Um lembrete da força que nela brotou.  

No tormento implacável, um brilho se faz,  
Um sussurro de luta, um vislumbre de paz.  
Pois na escuridão, onde a alma se formou,  
A força se tece, e o coração se formou.

Martelo do Silêncio

Nas esquinas, a morte sussurra, rastejante,  
Um véu cinzento sobre os ombros dos viventes.  
Seus passos ecoam, um peso que consome,  
Martelo invisível, que o coração não nome.  

Você já sentiu o bastante?  
O luto que corta, o tempo que é esticante?  
Forçar-se a erguer, pedaço por pedaço,  
É costurar a alma com linha de cansaço.  

A tentação dança, um fio de fumaça,  
Enlaça a mente, consome, ameaça.  
"Desça ao meu chão", ela murmura, fria,  
Mas não é Deus quem julga, é a própria agonia.  

Desligue o rumor, as vozes que gritam,  
Sombras nas nuvens, que em segredo nos fitam.  
Tento lavar a dor, como sangue na pedra,  
Mas o martelo insiste, e a alma se seda.  

Ei, destino, abaixe esse martelo cruel,  
Não vê que resisto sob o mesmo céu?  
Não quero a doçura de uma falsa promessa,  
Quero ar que não queime, que não me oprima essa pressa.  

Você aguenta o peso?  
Empurra a corrente, desfaz o congresso?  
É forte o bastante pra mais uma luta,  
Ou cede ao martelo que a esperança executa?  

2 de jun. de 2025

A Chave de Alabastro

Forjada em brisa, não em ferro ou chama,  
De memórias trançada, um pulsar que se inflama.  
É o instante em que a graça vence o rancor,  
E a compaixão desarma o frio do temor.  

Não é leve, mas não curva os ombros dos puros,  
Carrega o peso dos sonhos, dos atos seguros.  
Um fardo de luz, um cristal de intenção,  
Que guarda nas veias o ritmo do coração.  

Não gira em fechaduras, não rompe cadeados,  
Mas abre silêncios, desvenda os segredos guardados.  
Seu som não é clique, mas um canto sutil,  
Que ecoa o nome que o peito fez seu.  

Se a dor que te aperta é um murmúrio que vem,  
É a Chave cantando, chamando por quem  
Aprende a escutar, com a alma a vagar,  
E encontra, no fundo, o que sempre quis dar.  

Que a Chave de Alabastro, tão frágil, tão forte,  
Te guie ao caminho que traça teu norte.  
Pois ela não abre apenas o que foi,  
Mas tece o que será, no que és, onde estou.

Nero - Um eco preso no vazio

Ilusão corre atrás de ilusão,  
Um cão faminto, devorando o nada,  
O cordeiro, outrora puro, agora é carne,  
Um tumor cego que geme sem razão, sem alma.  

Assassinos desfilam em procissão,  
Psicopatas dançam nas esquinas escuras,  
Cadáveres vivos rastejam pelas calçadas,  
A praga veste a camisa da fé, ungida pela força.  

Um filme se desenrola, tingido de sangue,  
Guerra e crime entrelaçados em cena,  
O cobrador de impostos sorri, voraz,  
Servindo aos caprichos de um mundo corrompido.  

O opressor aperta o parafuso,  
Nero ri, banhado em terror até o pescoço,  
Um grito acaricia o ar, um beijo amargo,  
Mentiras escorregam como macarrão pela garganta.  

O parafuso range, mais apertado ainda,  
Uma viagem se anuncia, sem volta,  
O carro funerário aceno, apaixonado,  
Um rio amarelo murmura seu nome.  

O absinto goteja, prometendo sentido,  
Mas no corredor estreito, a vida escapa,  
Um sussurro preso entre os dedos,  
Um eco preso no vazio, para sempre.  

Fantasmas do Que Poderia Ser 2

Um sussurro preso na garganta,  
Palavras que dançam, mas não se formam.  
O vento carrega o peso do silêncio,  
E o coração, um pássaro sem asas, se conforma.

Teus olhos, faróis em mares de bruma,  
Acendem memórias que o tempo consome.  
Cada passo um eco, cada sonho uma pluma,  
Flutuando no vazio onde o amor se nome.

Deixei flores no túmulo do que fomos,  
Pétalas murchas, promessas partidas.  
Mas no peito, o pulsar ainda somos,  
Fantasmas vivos, de mãos entrelaçidas.

Fantasmas do Que Poderia Ser 1

Sua voz, um fio que desfiei silenciosamente.
Costurei meus lábios, costurados com fogo.
Sua verdade pálida se escondia em um espelho ferido.
Cada olhar cortava meu peito, o tempo sangrava.

Ele reunia estrelas para o céu de outra pessoa.
Velei minha lua, derramando fios prateados.
Amor, uma ferida que carregamos como sombras.
Juntos, separados, uma tragédia esculpida em osso.

Enredado no Silêncio

Enredado em fios de um tempo que se foi,  
Sem consciência, sem um centavo, apenas solidão,  
A chuva cai lenta, um véu sobre o chão,  
No parque, um homem, sombra da sua própria canção.  

Fala aos ventos dos restos de outrora,  
Glória perdida, um cheiro amargo no ar,  
Nos olhos, a luz se apaga, se esvai devagar,  
Tudo morre, e o coração ainda implora.  

E quem diria, meu amigo, meu irmão,  
Que o destino nos traria tamanha aflição?  
Era para ser diferente, um céu a se abrir,  
Mas enredados estamos, a sonhar, a sofrer, a existir.

Caos

No redemoinho do tempo, o caos dança,  
Um grito neurótico, sem começo, sem esperança.  
Capelas mudas, sentinelas do caminho,  
Sussurram segredos que o coração não adivinha.  

De outra dimensão, um véu se rasga,  
Força bruta empurra, com desgosto e pragas.  
Um voo ceifado, asas quebradas no ar,  
A Terra, amaldiçoada, não sabe se levantar.  

Loucura contra loucura, um embate sem fim,  
Óculos velam a vergonha que mora em mim.  
Magia amarga, igual em todo lugar,  
Um gosto que queima, ninguém a decifrar.  

Corpos inertes, lavados de cor,  
Comungam em silêncio, num ritual de dor.  
A Terra, órfã, sem o Espírito a guiar,  
Desde sua gênese, condenada a vagar.  

Queres ir à floresta, onde anjos não pisam?  
Onde sombras se erguem e os céus se desfazem?  
Ou basta um adeus, um sussurro final,  
No caos que engole o que é mortal?  

Santos e Sombras

Ó santos, garra e estrondo, vós sois o trovão  
Que rasga o véu do tempo, monstro sem coração.  
Dois vivos, entrelaçados, tecem a canção,  
Pontuam o vazio com sua pulsação.  

Trabalho, cinza e pó, onde a chama se consome,  
Sílex e isca, faísca que o destino nome.  
Nas torres enegrecidas, pedras em oração,  
Vazias, mas plenas, guardam a imensidão.  

Tudo dentro, tudo fora, a alma a reluzir,  
Brilhante, ó brasa viva, que não sabe sucumbir!  
Adeus, sussurro à luz, à doce alquimia,  
Que ferve, que transborda, mas cinza se tornaria.  

No esquecimento da noite, amor, o céu se fecha,  
Mas o amanhecer sangra, e a aurora se avizinha.  
Por que, espíritos, persuadir o coração?  
Anjos aos meus pés, em súplica e aflição.  

Desfazem-se em osso, a carne podre a ruir,  
Fios puxo da pele, o tempo a me reprimir.  
Ele segue? Se eu liderar, virá na escuridão?  
Ou cairá, como Ícaro, na falsa ascensão?  

Matizes de óleo, o futuro a girar,  
Adormecido, distante, além do que há no mar.  
Os mortos, nas paredes salgadas, a clamar,  
Suplicantes, carentes, sem nunca se calar.  

Tão triste é seu cortejo, faces de pó a vagar,  
Inumanas, imploram redenção a se formar.  
Aponto ao horizonte, meia-verdade a brilhar,  
Cores de um mundo partido, que não sabe parar.  

Ó imaterial, além do voo icarino,  
Buscas o eterno ou apenas o destino?  
Santos, sombras, entre o estrondo e o silêncio,  
Vossa dança é o fogo, vossa sina, o vazio.

O Sussurro da Folha Solta

No galho, me prendi por eras lentas,  
Tecendo sonhos em véus de esmeralda.  
O sol me banhava, a chuva me cantava,  
Mas meu coração ardia por ventos indomados.

Outras folhas amavam a luz dourada,  
Ou se entregavam às gotas em noites molhadas.  
Eu, porém, sonhava com planícies sem fim,  
Onde o céu e a terra dançam em mim.

Veio o outono, com sua mão de cinza,  
E soltou-me leve, em brisa tamanha.  
Dancei com os ventos por vales e alamedas,  
A árvore, tão alta, agora pequena.

No giro do ar, sou pluma, sou chama,  
Carregada ao longe, onde o mundo me chama.  
Livre do peso, do galho, da espera,  
Sou um sopro do eterno na vasta primavera.

1 de jun. de 2025

Segredo

Um segredo está no meu peito,
Garras que prendem minha voz ao silêncio,
Como folhas que caem sob o peso do outono,
A querer se soltar, dançando entre os ventos.

O desejo de gritar,
Um pássaro em cativeiro,
Asas despedaçadas, implorando por liberdade.
Não é minha história, mas carrego seu eco,
Como um rio que flui, sem fim,
O peso sob a pele, a sombra da alma,
Eu imploro: abra-se, deixe o segredo sair.

Não posso mais suportar esse fardo,
E no céu, numa explosão de luz,
Um novo amanhecer surge —
Se apenas pudesse, como o sol,
Queima o véu da noite,
Para, enfim, ser livre.

Um Eco

Ossos rangem sob o frio cortante,  
carne encolhida, um lamento constante.  
O vento, cruel, não dá trégua ao tremor,  
punhos cerrados, presos no rigor.  
Nem a maré, com seu toque sutil,  
desfaz o gelo que o corpo sentiu.  

Tristeza semeia em sulcos profundos,  
onde a mão não alcança, o peito é mudo.  
A garganta aperta, o pulso vacila,  
o ritmo incerto, a vida oscila.  
Respirar, às vezes, é um ato consciente,  
um esforço preso num instante presente.  

Mudas sussurram de primaveras futuras,  
mas a sabedoria questiona as juras.  
Promessas quebradas, cinzas que restam,  
ecos de dias que o tempo sequestra.  
Ainda assim, guardo o solo sagrado,  
onde um jardim, teimoso, é plantado.  

Tempestades rugem, céus se fecham,  
mas a esperança, frágil, ainda se ergue.  
Pedras pesam, os anos me curvam,  
lembranças felizes, raras, se turvam.  
Amigos partiram, caminhos diversos,  
deixando saudades em meus universos.  

Seus sonhos, em parte, eu ajudei a tecer,  
mesmo com palavras que ferem ao dizer.  
A dor rasga o papel, a mão escreve apressada,  
tentando soltar as amarras da alma cerrada.  
O coração pulsa, insiste em falar,  
mas sombras não ouvem, não sabem parar.  

Dias gravados em bronze reluzente,  
noites de prata, estrelas na mente.  
Quebrados, remendamos com fios de ouro,  
um novo inteiro, um frágil tesouro.  
Somos sobreviventes, heróis sem querer,  
carregando a luz, mesmo sem a ver.

O Núcleo 2

No âmago do ser, um véu suspenso,  
Significado oculto, denso, imenso.  
Noite eterna, opressão sem fim,  
Abismo que cobre, mas não devora assim.  

Desprezo aos que buscam, com mãos ansiosas,  
Um rasgo no tecido, nas dobras sombrias.  
O mago das cores, silente, a postos,  
Pinta o invisível com gestos compostos.  

Importa saber o que trazes contigo,  
O que guardas sem mastigar, antigo.  
No peito, onde os sonhos se enraízam,  
A voz da empatia é o que eterniza.  

Às vezes tão perto, às vezes no ar,  
Mas sempre presente, a pulsar.  
A ideia é a estrela da aurora clara,  
Farol do propósito, essência rara.  

Além dos conceitos, além da razão,  
Além do que cabe na vã dimensão.  
Só se esqueceres cada palavra ouvida,  
Verás a verdade na frágil ferida.  

Falhas são o legado, o rastro da chama,  
Consciência que queima, mas não se derrama.  
Quando chegamos, sangrando, a pagar,  
O núcleo nos chama: *basta olhar.*

O Núcleo

No núcleo do ser, onde a essência reside,  
Habita um significado, um sussurro, um guia.  
A noite eterna, em seu manto, se decide,  
Cobre os corações, mas não apaga a poesia.

Desgosto por aqueles que buscam no vazio,  
Um buraco no capuz, na sombra e na dor.  
Mas ao lado, um mago, com paleta e desafio,  
Pinta as cores da vida, transforma o amor.

Importante saber o que levamos em nós,  
O que é preciso, e o que podemos deixar.  
No coração, a beleza, a voz que traz a paz,  
É sempre um paraíso que te convida a amar.

Às vezes é perto, outras vezes distante,  
Uma chama que arde sem nunca se apagar.  
A ideia é a estrela que brilha, radiante,  
O propósito oculto, convidando a sonhar.

Conceitos e dimensões além da compreensão,  
Navegamos em mares de dúvidas e anseios.  
Mas se tudo esquecemos, e silenciamos a razão,  
A verdade se revela nos íntimos meios.

Falhas, legados de um ser que se busca,  
Consciência desperta, mas o preço é elevado.  
Quando chegamos ao fim, com a alma que fussca,  
Pagamos com sangue um caminho sagrado.

26 de mai. de 2025

A Distância - Um Coração em Silêncio

Você não está ao meu lado,  
Mas em mim seu nome é luz,  
Um amor que floresce calado,  
Em segredo, onde ninguém viu.  

Cresce quieto, como a brisa,  
Em raízes que o tempo teceu,  
Aguardando o dia em que a brisa  
Se torne aurora e revele o que cresceu.  

Quando nossos caminhos se cruzarem,  
Como rios que ao mar vão correr,  
Este amor, guardado, há de explodir,  
Num amanhecer que não vai se deter.  

A distância, um palco do cosmos,  
Tece o instante que há de chegar,  
divino, perfeito, em seu caos,  
Onde meu coração vai se declarar.  

Até esse dia sagrado,  
Guardo-te em preces ao luar,  
Em versos que o vento tem cantado,  
Nas dobras da alma a te esperar.

O Passado!

Sob um véu de névoa, o céu se curva, apaixonado,  
Onde o tempo foge, mas a memória é ancorada.  
No bosque silente, clássico e eterno,  
Segredos dançam entre o céu e o inferno.  

Árvores e pedras, anciãs de mil faces,  
Guardam contos gravados em rugas e traços.  
Sussurram ao vento, em folhas que caem,  
De risos, de luto, de amores que saem.  

A brisa é a voz do carvalho ancestral,  
Entoando o canto de um ritmo imortal.  
O musgo, um manto de veludo verde,  
Cobre os sonhos que o tempo perdeu e reteve.  

Junto ao riacho, o salgueiro se inclina,  
Suas lágrimas brilham na luz que ilumina.  
Cada pedra, cada rama, em segredo murmura,  
Uma sabedoria que o tempo não jura.  

Escuta o chamado, respira o passado,  
O bosque não dorme, é vivo, é sagrado.  
Ali a Terra guarda o eco de tudo,  
A glória, a ruína, o pulsar mudo.

25 de mai. de 2025

As Bordas da Solidão

As bordas da solidão,  
Como ondas negras em coma,  
Envolveram teus ombros frios,  
Um céu alienígena, sem sol, sem nome.  

Memórias de risadas, fragmentos leves,  
Caem como chuvas, súbitas, breves.  
Sob a lua cheia, a juventude uiva,  
Lobos vibrantes, livres, na noite viva.  

Cores pulsantes, outrora em chama,  
Tornam-se pores do sol, abstratos, que enganam.  
Perguntas dançam em tua mente excêntrica,  
Buscando o mistério onde a criação se replica.  

Magos tecem teias quânticas, frágeis,  
Prismas pegajosos, buscas incansáveis.  
Histórias de rua, faíscas na escuridão,  
Incendeiam a escrita, quebram a prisão.  

Mas o dragão, pacífico, incompreendido,  
Guarda reinos sob escamas, num rugido.  
Tensões crescem, gavinhas perturbadas,  
De um coração ferido, de promessas quebradas.  

Qualquer um pode tombar sob o peso,  
Do infortúnio, da tormenta, do vazio ileso.  
Como a mulher que segura o mar nos olhos,  
Severa, serena, um mistério em cachos.  

Perigosa, convulsa, de feitiços lunares,  
Encanta a lua, em seus rugidos raros.  
Sem palavras, apenas silêncios que gritam,  
Chiados estrondosos, onde sonhos habitam.  

Escura, silenciosa, a alma implora brilhar,  
Vidro partido, querendo se iluminar.  
E no ombro frio, um caminho se faz,  
Na solidão que corta, mas também refaz.

Linha Mais Larga

Linha mais larga, rasgada no chão,  
Alcatrão ferve na névoa do enxofre,  
Gota salgada, que a chama consome,  
Vapores sobem, o sal chove então.  

Vá, corta a bruma, não olhes atrás,  
Cerra os dentes, avança com gás!  
No pântano escuro, um passo audaz.  

Largo é o passo, a vista se faz,  
Clareira reluz entre dois lamaçais,  
Respira o instante, mas segue sem paz.  

Os pés te levam, não pedem porquê,  
Pântanos, brisas, do amanhecer até,  
Sem fim à vista, só o agora é teu.

Não Viverei Um Dia

Você é uma menina,  
De lábios silenciosos,  
Teu olhar acende brasas,  
Queimando em mim, ansioso.  

Suas cartas, doces versos,  
Sussurram no meu peito,  
Despertam um amor preso,  
Fogo vivo, jamais desfeito.  

Você é uma menina,  
De discursos sem resposta,  
Cada palavra tua é lança,  
Que o coração atravessa.  

Gelo e pedra se rendem,  
Diante do teu calor sutil,  
Meu mundo, que antes treme,  
Se curva ao teu abril.  

E eu, pronto para servir,  
Esquecerei o mundo em vão,  
Pois teu sopro faz revivir  
A chama no meu coração.  

Parece-me que estás tão perto,  
Teu pulsar me faz renascer,  
Não viverei um dia, por certo,  
Sem teu amor me aquecer.

Imitação Lendária

Ela, a mais velha, rebelde nascida,  
Filha de tecnocrata, mago da sina,  
Do sacrifício forja sua chama,  
Traduz padrão, código, em dor que se trama.  

Lógica vira corpo, ação que se faz,  
Lâmina isolada, intenção mordaz.  
Passo calculado, precede o destino,  
Caminha na corda, traçando o divino.  

Enforcada em vísceras, forro de prata,  
Vermelho pulsando, a cabeça arrebata.  
Coração dispara, ecoa o clamor,  
Sob a costela, curva-se a dor.  

Captora da tensão, gaiola a prender,  
O futuro se dobra, não sabe ceder.  
Dançarina do tempo, carretel a girar,  
Corre a linha da vida, morre sem tombar.

O Corpo Reina Sem Vida no Caixão

O corpo reina sem vida no caixão,  
Um trono frio, de silêncio e solidão.  
Sob a terra, os arbustos hão de crescer,  
Cobrirão a sepultura, sem nada a oferecer.  

Nem o sol, com seu raio de luz fugaz,  
Nem o beijo do vento, que dança audaz,  
Tocarão a testa, pálida e sem cor,  
Onde a vida se foi, restando o torpor.  

A cada dia, eu me rendo ao pó,  
Um esqueleto em construção, o que sobrou.  
O tempo, cruel, despe seus encantos,  
E os vermes banquetam-se em lentos mantos.  

Numa noite, sob a lua a brilhar,  
Um andarilho há de ao túmulo chegar.  
Expulso do mundo, errante e sem lar,  
Na estrada, meu bem, ele veio se encontrar.  

Com ousadia, sussurro, com leve candor,  
Convido-o a sentar, dividir meu temor.  
E quando ele vir o que outrora fui,  
Deitará ao meu lado, no chão que se formou,  
Como em leito nupcial, onde o amor se formou.

24 de mai. de 2025

Nuvens e Oceano

Minha mente flutua nas nuvens, leve e distante,  
Sonhos dançam no céu, em brisa constante.  
Meu coração mergulha no oceano profundo,  
Busca amor e luz, num anseio sem mundo.  

Perambulo só, com o peito em desespero,  
Frio, perdido, onde o vazio é sincero.  
A felicidade roubada por mãos traiçoeiras,  
Deus, guia meu rumo, dissipa as fronteiras.  

Mentiras e sombras tentam me sufocar,  
Negatividade insiste em me aprisionar.  
Mas peço, Senhor, que meu coração aprenda,  
A perdoar os erros, com a alma que se emenda.  

Nas nuvens, minha mente ainda voa, sonhadora,  
No oceano, meu coração pulsa, agora e outrora.  
Com fé, espero o amor, a luz que me conduz,  
Querido Deus, traga paz e o verdadeiro amor à cruz.

Responsabilidades da Liberdade

Não é só bandeira ao vento a tremular,  
A liberdade carrega um peso a sustentar.  
Muralha forte, mas frágil se não vigiar,  
Só é firme quando o chamado a defender soar.  

Vacila quando o orgulho cega a visão,  
Mas floresce na humilde e ousada ação.  
Seu teste é sutil, no silêncio a se formar,  
Nos instantes ocultos que ninguém vai mirar.  

Vive nas escolhas que fazemos sós,  
Onde honra e verdade plantam sua voz.  
Pede que jamais nos apartemos, por fim,  
De quem luta apenas para não sucumbir.  

Sua voz ecoa com graça a curar,  
Não fere, mas busca o mundo a transformar.  
A liberdade que brilha não é sem valor,  
Traz deveres a mim, a ti, com fervor.  
  
Liberdade é lembrar, com respeito e canção,  
Os sacrifícios que forjaram nossa nação.  
Sua chama exige de nós, com ardor,  
Honrar os que caíram por seu eterno amor.

Não Sucumbiremos

Há um pulsar que sinto ao sonhar nosso eterno,  
Um desejo que o coração, em silêncio, venceu.  
Minha alma, em luta, alcançou o superno,  
E Deus sabe: és tu o que sempre me venceu.  

Anos de dor, conformes à sombra que rói,  
Vinte e poucos sem teu toque na noite a me guiar.  
O tempo parou, e a alma quase se formou em nós,  
Sem alicerce, só decepções a me sufocar.  

Agora habito um reino de cura e verdade,  
Onde o amor é forte, tecido do pai da eternidade.  
Não apenas existo, não apenas ocupo o chão,  
Sou homem em chamas, no auge da minha ascensão.  
 
Outrora quebrado, um eco de desespero e lamento,  
Hoje forjado em esperança, com fogo que não se apaga.  
Mas sombras do passado tentam brilhar em tormento,  
E os demônios, teimosos, resistem à minha saga.  
 
No fundo, sob a pele, uma guerra sem fim,  
Onde só o amor pode erguer-se soberano e sadio.  
Um tremor abala os alicerces de mim,  
Pois dor e ventura não julgam quem as criou no vazio.  

Peço perdão até que o aprendizado me venha,  
Superando as cercas que ergui antes de ti.  
Com votos de amor, indômitos, sem peçonha,  
Provaste-me o fogo do amor, e não sucumbiremos, aqui.

18 de jan. de 2025

Espaço Negativo

Fratura repousa em seu penhasco,  
Acima de ondas que se quebram,  
Olhos perdidos em buracos no céu,  
Cada um, um corvo que observa.

A lua, com seu sorriso brincalhão,  
Engana os que a terra abraça,  
Empurra Fratura à ressaca,  
Onde sua essência se dispersa.

Torcendo, gritando, ele se despedaça,  
Séculos em queda, machado cansado,  
Na busca por vozes que o chamam,  
Emaranhado na dor do passado.

Mudando, fervendo, chorando em silêncio,  
Quebra-se sob pedras que o sostenham,  
Corpo levado pelo vento,  
Neve congelada que não cessa.

Um buraco vazio, em forma de corvo,  
Voa pelo cinza do horizonte,  
Esculpe listras da inexistência,  
Caminhando ao túmulo da fratura.

No bico, um pincel de esperanças,  
Garras que seguram latas de tinta,  
Dá vida a ondas congeladas,  
Pintando tributos ao que não fica.

Fratura jaz sob os mares profundos,  
Coração de vidro, pulsante e sutil,  
Um buraco vazio, ecoam os corvos,  
Formas que não se vão, eternas no anil.

Enterrado sob areias pesadas,  
Acorda de um sono que é tormento,  
Sussurros agarram mãos e cabeça,  
Tentáculos puxam-no ao fundo do tempo.

Tarde da noite, ela se empoleira,  
Em sua árvore, ao lado do Robin,  
Envolto em gelo, Fratura se retira,  
Silenciosos gritos de um sonho que fenece.

Um buraco vazio, em forma de corvo,  
Esculpe nada em seus sonhos perdidos.

11 de jan. de 2025

Paradeiro Desconhecido

Nas sombras de uma casa adormecida,  
Cortinas que emudecem histórias,  
Baldio e silente o passado se aninha,  
Entre indagações, vestígios de memórias.  

Ocupar o espaço do desconhecido  
É como dilatar um eco infindo,  
Onde há um intricado enigma,  
Um crime, talvez, sutil e indistinto.  

Caminhos se entrelaçam em labirintos,  
Ruas confusas, um desfile de incertezas,  
Cada esquina um convite, um convite à pena,  
Ao olhar das estátuas, eternas belezas.  

Entre as sombras da cidade em desuso,  
Sente-se o peso de um olhar divino,  
A presença sutil de um Jesus perdido,  
Que ao espiritual guia, se torna destino.  

O luar, despencando sobre pulsos cansados,  
Talvez indique a senda que se oculta,  
Na dança do tempo, um rastro apagado,  
Um convite ao desconhecido que resulta.  

Aquela esquina não é só um lugar,  
É o limiar de um sonho inexplorado,  
Onde, em meio ao murmúrio das almas,  
Desvela-se um caminho não esperado.  

Das sombras à luz, o que se esconde?  
O desfecho de vidas em versos perdidos,  
E no paradeiro que o tempo esconde,  
Vive o eco de passos, entrelaçados evidos.

10 de jan. de 2025

Para um Anjo

Falar é barato, palavras dançam suaves,  
Teus olhos, estrelas num céu de desejos,  
Um olhar profundo, doce como um verso,  
Perdido em páginas, onde tudo é imenso.  

Assim, tu és, um anjo entre humanos,  
Teus gestos delicados, como brisa em veranos,  
Estudando as dores que a vida traz,  
Mas, com a mesma mão, oferecendo paz.  

Teu coração, fonte infinita de amor,  
Dá vida aos aflitos, aos que buscam calor.  
Irmã ou mãe, não me peçam escolha,  
Teu ser é um abrigo, um laço que não se destrói.  

Em tempestades, és farol que ilumina,  
Aguarda comigo na sombra, que ensina.  
Teus cabelos, cascatas onde posso me perder,  
E em cada mecha, um novo amanhecer.  

Que anjo és tu, que vem me salvar?  
Um sussurrar do além, um toque no ar.  
Na dança do tempo, um amor sem fim,  
Agradeço ao destino por ter você em mim.  

Teço estas linhas, como um quadro em flor,  
Para celebrares teu eterno valor.  
Anjo, minha amada, de luz tão sutil,  
Em cada palavra, te guardo em meu perfil.  

Sussurros da Arte dos Girassóis de Vincent van Gogh

No coração de Arles, onde a luz dança em ouro,  
Vincent, o sonhador, tece o tempo com seu fervor.  
Em suas telas, girassóis em festa, um balé,  
Pétalas como línguas, murmurando ao sol seu querer.

São cinco a sinfonia de cores vibrantes,  
No calor da criação, florescem instantes.  
Amarelos em camadas, como um abraço profundo,  
Cada pincelada, um ritmo que ecoa no mundo.

O céu, um palco de nuvens pesadas e intensas,  
Onde a alma do artista encontra suas essências.  
O impasto revela anseios, sussurros, explosões,  
A arte transborda vida em infinitas emoções.

Oh, girassóis, em sua dança, o tempo faz parar,  
Vocês são a chama que se atreve a brilhar.  
Em cada detalhe, a paixão fervilhante,  
Um mosaico de luz, beleza constante.

A eloquência da simplicidade se ergue,  
Capturando a essência do dia que mergulha e segue.  
Sombras e brilhos, entrelaçados na sinfonia,  
Na paleta da vida, a eterna melodia.

Centurião

Cem poemas, um breve instante,  
Fruto da mente em incessante labuta,  
Menos de dez dias, um ciclo vibrante,  
Apaguei tudo, renasço na disputa.  

A fratura estilhaça, mas revela,  
Caminhos tortuosos e silêncios profundos,  
Sinta a raiva, lava que desvela,  
O peso das ondas, segredos fecundos.  

Sou apenas o início de uma jornada,  
Palavras dançam, fluem sem fim,  
No labirinto da alma, a voz entrelaçada,  
Em cada verso, um eco, um clarim.  

Não há fim para o que se tem a dizer,  
Na vastidão do tempo, continuará a pulsar,  
Como um centurião a vigiar a essência,  
A cada poema, disfarce a encarnar.  

9 de jan. de 2025

Leia-me como Braille

Leia-me como Braille,  
Entre os dedos, um sussurro,  
Minhas mãos deslizam, em busca,  
De um toque que ecoa no escuro.  

No queixo, traços de esperança,  
No pescoço, um caminho em calma,  
Cada linha uma dança,  
A busca pela sua alma.  

Tento sentir suas mãos de volta,  
Como se o tempo pudesse parar,  
Mas a ausência é uma volta,  
Um labirinto sem lar.  

Nessas letras que se desenham,  
Perfis de um amor tangível,  
São curvas que se empenham,  
Para tocar o invisível.  

Mas nada se compara,  
À sua pele, seu calor,  
É no toque que se ampara,  
A essência do verdadeiro amor.  

Leia-me com a atenção,  
Que só as almas conhecem,  
Para que a troca de emoção,  
Na pele, os segredos crescem.  

Entre o silêncio e o palpitar,  
Busco você em cada instante,  
Entre toques, a arte de amar,  
Na ausência, um amor constante.  

Perdido

Na senda de sonhos que nunca atingiremos,  
Ensinamos a nós mesmos enquanto vagamos,  
Subindo degraus de ilusões inatingíveis,  
A melodia da vida ressoa em ecos distantes.  

Cicatrizes, marcas do nosso percurso,  
Gritam em silêncios, gritam no dia a dia,  
Obstáculos surgem como sombras traiçoeiras,  
Mas, mesmo assim, persistimos em canções.  

Você consegue ouvir? A sinfonia do caos?  
Vê além da noite profunda e enganadora,  
Onde a luz fraqueja, mas ainda resplandece,  
No escondido se revelam verdades ocultas.  

Gritamos em busca de certezas perdidas,  
Cientes da fragilidade do nosso ser,  
Cegos em crenças que alimentamos,  
Mentes corrompidas por ilusões confortáveis.  

Debatemos entre a lucidez e a negação,  
Um ciclo vicioso que aprisiona nossa essência,  
Custamos a entender que a liberdade é uma escolha,  
Mas ainda nos deixamos enterrar em futilidades.  

A degradação de um tempo que não perdura,  
Morte silenciosa que, no fundo, aceitamos,  
E mesmo com a ignorância erguida em troféu,  
Surpreende-nos a insensatez que nos define.  

Perdidos na vastidão do nosso pensamento,  
Lutamos para libertar a alma aprisionada,  
Na eterna dança entre o real e o sonhado,  
Somos, afinal, ecos de busca interminável.  

4 de jan. de 2025

Destruição Eminente

No fio tênue entre a vida e o abismo,  
Nas páginas rasgadas da minha história,  
Eu contemplo a sombra de um heroísmo,  
Um eco distante de outrora e glória.  

Acanhado, o papel se torna testemunha,  
Das linhas tortas de um destino aflito,  
Cada curva um pedido, uma trégua,  
Cada frase um lamento, um grito.  

A dor faz-se arte nas bordas do vidro,  
Cortando a pele como um verso calado,  
Sangue desce em versos, um hino ladrido,  
Última estrofe desse amor descompassado.  

E neste teatro onde o silêncio é rei,  
Eu me pergunto a cada passo que dou,  
Se há beleza na ruína, ou se o que sei  
É apenas um eco do que já passou.  

Destruição iminente, a dança das chamas,  
As cinzas se espalham, caindo como poeira,  
E eu, em meu canto, já não tenho dramas,  
A dúvida é um peso que a alma mensageira.  

Eu fui, eu sou, e no fim, quem serei?  
Um rascunho desfocado, uma sombra vagante,  
Em meio à ruína, um sussurro...

Sonambulismo

Caminho sombrio da mente adormecida,
Onde a razão se perde em dança vadia,
Entre o silêncio, a noite é concedida,
E a alma vagueia em sonho sem guarida.

Sob a luz pálida que o sono lança,
Corpo e mente se separam em dança,
Como marionetes sem fio a rodar,
Na escuridão do sonambulismo a navegar.

Ondas lentas que ecoam no vazio,
Despertam sombras num íntimo desvario,
Corpo retorcido em estranha geometria,
Na dança sinuosa da melancolia.

E assim, na noite profunda e fria,
O sonâmbulo vagueia em agonia,
Entre o real e o mundo dos sonhos,
Desperto em transe, entre os limiares medonhos.

2 de jan. de 2025

É Assim que a Tristeza Parece

Eu acho que te fiz nas sombras dos meus pensamentos,
Como um espectro assombrando as grutas mais íntimas da minha mente;
E toda noite eu fecho meus olhos
Você surge como um eco nas cavidades dos meus suspiros.

Eu acho que te fiz nas profundezas da minha tristeza,
Um fantasma para me arrastar para baixo, enquanto eu pego emprestado
Os tons de cinza de um mundo que se tornou
Um deserto árido onde as cores são desfeitas.

Eu sonhei com você, uma visão de um amor que foi perdido,
Uma brasa ardendo sob a geada;
Mas quando o sol da manhã começou a brilhar,
Você desapareceu, me deixando à deriva em um riacho de lágrimas.

Eu sonhei com você, um sussurro de uma vida que poderia ser,
Uma voz que poderia acalmar a tempestade que rugia em mim;
Mas na luz cruel do dia, você recuou,
Deixando-me quebrado, com um coração que sangrava e implorava.

Lembro-me vagamente do seu rosto, um rosto enigmático,
Um quebra-cabeça que desejo resolver, um mistério que persigo;
No entanto, cada vez que estendo a mão, você escorrega por entre meus dedos,
Um espectro no crepúsculo, onde a melancolia permanece.

Repetindo seu nome, eu o convoco da minha mente,
Um mantra de desespero, um canto dos resignados;
Você é o fantasma que assombra minha memória,
Um espectro de desejo não realizado, um amor que não poderia ser.

Nas cavernas do meu coração, construí um santuário,
Um refúgio para os sonhos que uma vez foram meus;
Mas agora ele está abandonado, um monumento ao arrependimento,
Um testamento para as feridas que nunca parecem se fixar.

Acho que te fiz nas sombras dos meus pensamentos,
Uma ilusão cruel, uma invenção que provoca;
E eu, um homem louco, perdido em minha canção de amor,
Busco consolo no eco do seu nome, a noite toda.