3 de jun. de 2025

Constelações de Sal

Minhas pernas traçam mapas de estrelas tortas,  
Vermelhas, roxas, pulsando como cães feridos,  
Pássaros caídos na beira da estrada.  
Minha mãe, com olhos de chuva,  
Disse que essas marcas afugentam amores,  
Que constelações assim não encantam.  

Mas eu amo estrelas.  
Amo cicatrizes.  
Não as que se vestem de prata,  
Longas e finas, como lâminas de duelos sonhados,  
Mas estas, brutas, nascidas do peso  
De me despedaçar em silêncio.  

O céu não é mais de estrelas,  
Apenas luzes de aviões,  
Nuvens gordas de tempestade.  
Ainda assim, meu coração é sal,  
Grãos espalhados nos cobertores do escuro,  
Pontos de suor, brilhos frágeis,  
Prontos para serem soprados,  
Dissolvidos no vento.  

E, no entanto,  
Em mim, as cicatrizes são constelações.  
Não são belas, mas são vistas.  
São minhas.  
E, sob a pele,  
Ainda ardem como astros.

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