1 de jun. de 2025

Um Eco

Ossos rangem sob o frio cortante,  
carne encolhida, um lamento constante.  
O vento, cruel, não dá trégua ao tremor,  
punhos cerrados, presos no rigor.  
Nem a maré, com seu toque sutil,  
desfaz o gelo que o corpo sentiu.  

Tristeza semeia em sulcos profundos,  
onde a mão não alcança, o peito é mudo.  
A garganta aperta, o pulso vacila,  
o ritmo incerto, a vida oscila.  
Respirar, às vezes, é um ato consciente,  
um esforço preso num instante presente.  

Mudas sussurram de primaveras futuras,  
mas a sabedoria questiona as juras.  
Promessas quebradas, cinzas que restam,  
ecos de dias que o tempo sequestra.  
Ainda assim, guardo o solo sagrado,  
onde um jardim, teimoso, é plantado.  

Tempestades rugem, céus se fecham,  
mas a esperança, frágil, ainda se ergue.  
Pedras pesam, os anos me curvam,  
lembranças felizes, raras, se turvam.  
Amigos partiram, caminhos diversos,  
deixando saudades em meus universos.  

Seus sonhos, em parte, eu ajudei a tecer,  
mesmo com palavras que ferem ao dizer.  
A dor rasga o papel, a mão escreve apressada,  
tentando soltar as amarras da alma cerrada.  
O coração pulsa, insiste em falar,  
mas sombras não ouvem, não sabem parar.  

Dias gravados em bronze reluzente,  
noites de prata, estrelas na mente.  
Quebrados, remendamos com fios de ouro,  
um novo inteiro, um frágil tesouro.  
Somos sobreviventes, heróis sem querer,  
carregando a luz, mesmo sem a ver.

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