Goteja o tempo, congelante vazio.
Era pra ser sol, era pra ser luz,
Mas o céu se fecha, e o coração se reduz.
Uma toupeira rasteja, na fundação do chão,
Escava o silêncio, onde pulsa a solidão.
Grita ao cair, mas ninguém ouve o som,
O eco se perde, no abismo sem tom.
O fedor se ergue, da carne que cede,
Músculos flácidos, paralisia que impede.
Horrível, sim, mas quem vai notar?
No milharal preso, o horizonte a apagar.
Queria a fama, chuva inebriante,
Trovões de glória, um brilho constante.
Do céu, do inferno, do abismo sem fim,
Que viesse a torrente, que fosse por mim.
Mas o tempo queima, a vida é brasa,
No milharal cego, a alma se abrasa.
Não há salvação, nem realização,
Apenas a chuva, e sua fria canção.
Que caia o grito, que se apague o cheiro,
Na dança do gelo, no mundo inteiro.
Se o horizonte some, e a esperança é vão,
Resta a poesia, pulsar da escuridão.
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