2 de jun. de 2025

Santos e Sombras

Ó santos, garra e estrondo, vós sois o trovão  
Que rasga o véu do tempo, monstro sem coração.  
Dois vivos, entrelaçados, tecem a canção,  
Pontuam o vazio com sua pulsação.  

Trabalho, cinza e pó, onde a chama se consome,  
Sílex e isca, faísca que o destino nome.  
Nas torres enegrecidas, pedras em oração,  
Vazias, mas plenas, guardam a imensidão.  

Tudo dentro, tudo fora, a alma a reluzir,  
Brilhante, ó brasa viva, que não sabe sucumbir!  
Adeus, sussurro à luz, à doce alquimia,  
Que ferve, que transborda, mas cinza se tornaria.  

No esquecimento da noite, amor, o céu se fecha,  
Mas o amanhecer sangra, e a aurora se avizinha.  
Por que, espíritos, persuadir o coração?  
Anjos aos meus pés, em súplica e aflição.  

Desfazem-se em osso, a carne podre a ruir,  
Fios puxo da pele, o tempo a me reprimir.  
Ele segue? Se eu liderar, virá na escuridão?  
Ou cairá, como Ícaro, na falsa ascensão?  

Matizes de óleo, o futuro a girar,  
Adormecido, distante, além do que há no mar.  
Os mortos, nas paredes salgadas, a clamar,  
Suplicantes, carentes, sem nunca se calar.  

Tão triste é seu cortejo, faces de pó a vagar,  
Inumanas, imploram redenção a se formar.  
Aponto ao horizonte, meia-verdade a brilhar,  
Cores de um mundo partido, que não sabe parar.  

Ó imaterial, além do voo icarino,  
Buscas o eterno ou apenas o destino?  
Santos, sombras, entre o estrondo e o silêncio,  
Vossa dança é o fogo, vossa sina, o vazio.

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