Que rasga o véu do tempo, monstro sem coração.
Dois vivos, entrelaçados, tecem a canção,
Pontuam o vazio com sua pulsação.
Trabalho, cinza e pó, onde a chama se consome,
Sílex e isca, faísca que o destino nome.
Nas torres enegrecidas, pedras em oração,
Vazias, mas plenas, guardam a imensidão.
Tudo dentro, tudo fora, a alma a reluzir,
Brilhante, ó brasa viva, que não sabe sucumbir!
Adeus, sussurro à luz, à doce alquimia,
Que ferve, que transborda, mas cinza se tornaria.
No esquecimento da noite, amor, o céu se fecha,
Mas o amanhecer sangra, e a aurora se avizinha.
Por que, espíritos, persuadir o coração?
Anjos aos meus pés, em súplica e aflição.
Desfazem-se em osso, a carne podre a ruir,
Fios puxo da pele, o tempo a me reprimir.
Ele segue? Se eu liderar, virá na escuridão?
Ou cairá, como Ícaro, na falsa ascensão?
Matizes de óleo, o futuro a girar,
Adormecido, distante, além do que há no mar.
Os mortos, nas paredes salgadas, a clamar,
Suplicantes, carentes, sem nunca se calar.
Tão triste é seu cortejo, faces de pó a vagar,
Inumanas, imploram redenção a se formar.
Aponto ao horizonte, meia-verdade a brilhar,
Cores de um mundo partido, que não sabe parar.
Ó imaterial, além do voo icarino,
Buscas o eterno ou apenas o destino?
Santos, sombras, entre o estrondo e o silêncio,
Vossa dança é o fogo, vossa sina, o vazio.
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