19 de set. de 2025

Caixão

Os pregos que me firmam, tão finos,
Não foram cravados por ódios, nem fins
Traiçoeiros, de quem me quis ver cair.
Foram mãos que eu jurava, me ergueriam, sim.

Amigos de riso fácil, de abraço apertado,
Que agora ecoam, um grito silenciado.
Não a doença fria, nem o mal disfarçado,
Mas o amor que pensei meu, me foi roubado.

E a ironia dói, como espinho na pele,
Vem de quem jurava, por mim era fiel.
Não do estranho que passa, sem sequer me ver,
Mas do peito que um dia, me disse "quero ter".

Não foi o orgulho altivo, que me fez dobrar,
Nem a vaidade tola, que me fez tropeçar.
Foi a pura bondade, o gesto de doar,
Que abriu a porta larga, para a dor entrar.

Não as chagas expostas, que o corpo feriu,
Mas as marcas profundas, que a alma sentiu.
Cicatrizes invisíveis, que o tempo não cobriu,
Lembranças pungentes, que o silêncio engoliu.

E nenhuma lágrima, por mim se verteu,
Dos olhos que um dia, por mim se encantou.
A terra, em seu pranto, me acolheu,
E apenas minha mãe, em dor me sepultou.

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