4 de dez. de 2024

Concessão

Em cada grito silencioso que escrevi,  
Nascem versos de um sonho antigo,  
Um momento lúcido na loucura que me habita,  
Sugando a tristeza, dançamos, eu e o abrigo.  

Cinquenta e um anos nas sombras,  
Alguns proclamam: «Ele prosperou!»  
Enquanto outros murmuram, em ecos de dúvida,  
«Como ele ainda está vivo, onde o tempo passou?»  

Sobrevivi à noite eterna,  
Perdidos em dias que escorrem,  
Nosso tempo, numa ampulheta quebrada,  
Consulta ao escuro; a luz que socorre.  

Vítima silente de minhalma confusa,  
Minha última imaginação em campo de batalha,  
Culpas gravadas nas águas do tempo,  
Interpretações errôneas, uma armadilha.  

Na juventude, as vozes foram claras,  
Mas o eco da sabedoria foi deixado para trás,  
Esta meia-noite que nunca finda,  
A escuridão eterna me envolveu em paz.  

Quando tudo se silenciar  
E as palavras forem apenas sussurros,  
Estarei só, navegando correntes de plena extensão,  
Com linhas escritas em capítulos obscuros.  

Esta última página, um toque sutil,  
Da história que ninguém voltará a ler,  
Cinquenta e um anos de aprendizado amargo,  
Agora concedo ao mundo meu último sofrer.  

À escuridão que me cerca, eu me curvo,  
Com gratidão pela lição que se firmou,  
Minha última confissão, um eco profundo,  
A concessão final de quem sempre procurou.  

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