10 de dez. de 2024

Chega?

Chega? A pergunta ecoa, vazia e fria,  
Em câmaras do peito, onde a solidão reside.  
Um fantasma, talvez, ou apenas o ar que esvoaça,  
Entre as árvores sombrias, onde a alma se esconde e chora.  

Este mundo é belo, sim, um espetáculo grandioso,  
Mas a sua glória me fere, um fardo doloroso.  
Eu vivo no seu esplendor, sob o céu imenso e azul,  
E, contudo, construo o meu inferno, cruel e habitual.  

Ao lado do seu, meu inferno se ergue, sombrio e denso,  
Em salas cinzentas, onde os pensamentos são tênues e frágeis, como o vento.  
Minha arte, complicada e amaldiçoada, se contorce,  
Como sombras minguantes, sem força ou vigor.  

Uma voz sem boca, um grito silencioso e mudo,  
Nunca será suficiente, nunca serei completo ou pleno.  
A bênção da luz, tão próxima, tão distante, um abismo intransponível,  
Se eu não posso brilhar, se a chama em mim se extingue e se esvai...  

Chega? A pergunta persiste, uma ferida que sangra sem cessar,  
A angústia de ver e saber, o peso de um destino cruel e amar.  
Sozinho comigo mesmo, em meu próprio tormento me afogo,  
Em um mar de sombras, sem porto, sem descanso, sem abrigo.

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