3 de dez. de 2024

Uma casca do homem que eu costumava ser

No crepúsculo suave de uma memória distante,  
Caminho entre sombras, onde o tempo é errante.  
Uma casca sussurra, de mim, o que foi,  
E ao vento do caos, um poema se foi.  

Eras de sonhos e lágrimas quentes,  
Reflexo em poças de momentos latentes.  
Fragmentos de riso, um eco sereno,  
Na dança das horas, no espírito pleno.  

Eu via o mundo com olhos de criança,  
Cada passo uma história, cada queda uma dança.  
Os medos eram sombras, a coragem, luz.  
O amanhã era um canto que adormecia a cruz.  

Mas as folhas caíram e o tempo deslizou,  
A casca se espelhou no que o coração não revelou.  
Como um rio que corre, que nunca se cansa,  
Fui moldando, aos poucos, minha própria bonança.  

Agora, na névoa, busco o que sobrou,  
Um eco profundo do homem que eu sou.  
Toda a dor que em mim se fez poesia,  
É a tinta da vida que o destino me guia.  

Respira, casca leve, não tema o passado,  
Nos braços da bruma, há um futuro aninhado.  
E se olhares pra dentro, encontrarás a luz,  
Na casca que habita, há um mais que reluz.  

Assim sigo, celeiro de fatos e fados,  
Transformando memórias em versos sagrados.  
Porque na essência do ser, há magia a fluir,  
Sou mais que uma casca; sou tudo a existir.  

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