24 de out. de 2025

Eclipse

A morte, minha amante distante —
Me ama, não pode me ter.
Anseia, mas não pode me alcançar,
Me quer como um alcoólatra
Ansioso por um gole,
Recaindo eternamente.

Parece tão assustador, como uma tempestade.
Eu estou em seu centro, dolorido,
Os olhos envoltos em desejo,
Encharcado de tristeza,
Uma alma viva, já em luto.

Eu também não a quero? —
Sim, como o calor no frio do inverno.
Eu também não a desejo? —
Sim, como as estrelas anseiam por um olhar.

Nenhuma manhã passa
Sem que eu clame por seu toque,
Mas a cada amanhecer
Eu me levanto respirando.

A morte é a lua adorável.
Eu, o sol ardente que ainda não se foi.
Eu espero pelo eclipse —
Leve-me em seu lugar.
Amaldiçoada com uma vida
Que se recusa a desaparecer.

23 de out. de 2025

Até o Inferno Te Recusa

A maneira como você se comporta
Traz apenas nojo,
Uma coceira na minha pele,
Um veneno em que não posso confiar.
Você não é amável,
Mera substituível —
Uma paródia descartável,
Sua presença me torna intolerável.

Você se pavoneia como se fosse divino,
Ansiando por adoração em seu santuário,
No entanto, tudo o que vejo é um palhaço tolo,
Perdido no circo da sua própria mente.

Nenhuma misericórdia espera por alguém como você,
Nem mesmo o inferno o levaria.
O perdão evita seu nome,
Seus pecados queimam mais que a chama.

Você é um espinho que cheira a decomposição,
A maldição mais vil que este mundo poderia exibir.

22 de out. de 2025

Universo Paralelo

Nas curvas da existência até o túmulo, me pergunto,
Como me contentar, nesta rota única sem desvio?
Com o livro em minhas mãos, almejo o conforto,
Mas minha alma anseia pela biblioteca do desconhecido.

Em algum lugar, uma garotinha dança com as marés,
Viajante solitária, de ilha em ilha, livre como as ondas.
Ela é a brisa, ela é o mar, ela é o sal e a areia,
Um espírito selvagem, de aventura incontida e profunda.

Numa realidade alternativa, uma simples mulher de terno e gravata,
Advogada bem-sucedida, sempre impecável e segura.
Ela olha para a lua de sua suíte na cobertura,
E sorri com a certeza de um destino sem fissuras.

Mas também, vejo você vestida de lantejoulas e cores,
Que encontrou abrigo em um circo itinerante de alegria.
Entre palhaços e trapézios, ela encontrou sua essência,
Uma vida de risos e aplausos, onde o medo não tem valia.

Como posso seguir por uma única estrada, me pergunto,
Quando cada possibilidade pulsa com um encanto vibrante?
Por que devo me contentar com um final indulgente,
Quando existem milhares de finais esperando por um instante?

Mas talvez, cada você que eu vejo em minha mente,
Seja apenas reflexo de uma alma inquieta em busca de si.
E, ao final, percebo que o caminho que escolho,
Não importa tanto, desde que seja verdadeiramente meu, e me faça feliz.

Misericórdia Matinal

O véu da noite findou, a luz persiste,
E o copo vazio, a reza a esperar.
O café na xícara, a tremer, insiste,
E o riso teu perdoa o meu balançar.

Caminhamos juntos, à mesa, em prece,
As mãos ainda trêmulas, mas o amor intacto.
Rimos do tombo da noite, que perece,
E nomeamos fantasmas, num ato.

A voz suave, lixa que acalma a dor,
Oração sussurrada, o dia a iniciar.
A dose matinal, um novo fulgor,
E o silêncio da noite, a se dissipar.

Teu dedo em meu, traçando um carinho,
Uma força gentil, um toque sutil.
E o silêncio da manhã, um cantinho,
Onde a brandura flui, tão frágil e sutil.

Deixamos as mercês mais puras fluírem,
Deixamos a noite em vão sussurrar.
E no suave rubor, a vida a redimir,
No amanhecer, um novo lugar.

15 de out. de 2025

Ainda não morto

Ainda o pulso fraco em meu peito bate,
A vida, um sopro, a me abandonar.
Ainda não morto, a sombra me abate,
E a morte lenta a me lacerar.

Ainda procuro em vãos caminhos,
A chama acesa que um dia brilhou.
Ainda não morto, busco os meus vizinhos,
Mas o silêncio a tudo circundou.

Ainda a alma em leilão, mercadoria,
Troca-se a essência por vãs ilusões.
Ainda não morto, a dor que me atrofia,
Afoga em prantos as minhas canções.

Ainda na carne o fardo da existência,
A mortalidade a me consumir.
Ainda não morto, a triste decadência,
Um lento adeus que me faz sofrer.

Ainda o riso perdido, a voz em pranto,
Em cada suspiro a angústia a vibrar.
Ainda não morto, o tempo, qual manto,
Encobre a esperança, e faz definhar.

Ainda as asas cortadas, chão que prende,
Sem o voo livre, sem o céu azul.
Ainda não morto, o medo que se estende,
E o coração se afoga no escuridão do sul.

Ainda o tormento, a agonia presente,
Na alma ferida, no corpo em dor.
Ainda não morto, a morte iminente,
Um frio véu que encobre o amor.

Ainda a vida petrificante,
Na solidão que me faz tremer.
Ainda não morto, o tempo errante,
Que me condena a perecer.

Ainda a dor, fantasma incessante,
Em cada célula, a me dilacerar.
Ainda não morto, o instante diante,
Um eco fúnebre a me atormentar.

Ainda as lágrimas, salgas da memória,
Um rio amargo a me afogar.
Ainda não morto, a triste história,
De um adeus que tarda em chegar.

Ainda não morto, e a vida em pranto,
A morte chega, e eu aqui, a implorar.
Ainda não morto... mas já, tanto, tanto...
Morrendo em vida... a me acabar.

14 de out. de 2025

Apatia

Como a ferida que arde no sal,
Cada espinho aguça a apatia.
Um sangramento que parece ser eterno,
Apenas para relembrar - ainda há vida aqui.

Como um véu de esquecimento,
Desenhado para os olhos que apenas expelem,
Cada gota do sangue interior,
Turbando a visão, a clareza repelida.

Como um grito silenciado,
Milhões de vozes não ouvidas,
Em coro clamam - se aqui estivesses,
Não conhecerias vida além dos teus dezesseis.

Apatia é a agonia que caminha,
Escolhendo quietamente seus pedaços,
Dos profundos cacos, repetidamente,
Apenas para ouvir incessantes murmúrios,
Sobre porque teu interior se mostra.

É um oceano que te sufoca,
Sob o peso de toda dor que carregas,
E quando a floresta de tua alma pega fogo,
Apatia é a flor que insiste em crescer,
Apesar e através do ardor.

13 de out. de 2025

O Paradoxo da Respiração

Entre as estrelas, a insônia me devora,
Vigia eterno, em busca de um repouso vão.
A pulsação da alma, em luta incessante agora,
No fio tênue da vida, presa em vão.

Descanso e ruína, um ciclo a se mostrar,
Renascimento e morte, em eterno confronto.
Chama e orvalho, a mesma lei a vibrar,
Em sombra e luz, a alma encontra o ponto.

O coração, na escuridão, suplica em vão,
O vazio e a aurora, a fome a saciar.
O paradoxo eterno da respiração, em vão,
Em cada suspiro, o eterno a me amar.

9 de out. de 2025

Banquete para um

No escuro dancei, a alma faminta,
A mentira, prato raso, saciou a mente.
Apatia, farta mesa, acalmou o olhar,
Enquanto a fome interna urgia a pairar.

Empanturrado em culpa, amargor na taça,
A vergonha, vinho escuro, na garganta passa.
Anoréxica alma, em vão, engoliu o pranto,
No bufê de traumas, o arrependimento, espanto.

Memórias dolorosas, em goles lentos,
Engasgava o passado, em vãos lamentos.
Desnutrido, em ruínas, o ser se esvaiu,
Até que a paz na mesa, enfim, surgiu.

Amor próprio, aperitivo, leve e novo,
Perdão no banquete, um futuro renovo.
A refeição da alma, em plena luz,
Deixou a escuridão, levando a cruz.

E então tem você... e o pulsar, em mim

E então tem você... e o pulsar, em mim,
De um medo bom, que o tempo faz vibrar.
Enquanto a fúria política teima em vir,
Água e óleo, em choque, a se chocar no ar.

Sinto o coração, por vezes, a tremer,
Ante a força imensa que nos faz distintos,
Diferenças vastas, a se estabelecer,
Criando cristas em nossos labirintos.

A mundanidade, entediante, a me cansar,
Quando só vejo arcos-íris, em vão,
Mas as paixões, em brasa, a nos juntar,
Num abraço forte, em profana canção.

A realidade, cruel, a nos quebrar,
Por quanto tempo ainda havemos de dançar?
Vou me agarrar ao caos, sem hesitar,
Enquanto vivo o medo a me abraçar.

O dia em que a razão enfim vencer,
Eu conheço os limites, a dor a me dizer.
E então tem você... e o que pode ser,
Num amor que a incerteza faz florescer.

2 de out. de 2025

Sussurro de Cinzas

Teu nome queima na minha língua —  
Um incêndio que não explica.  
Teus olhos, faróis na névoa —  
Me guiam, me afogam, me fixam.  

Cada passo é um voto cego —  
Teu toque, um veneno que eu bebo.  
No peito, o pulsar é um tambor —  
Ritmo de um amor que é dor.  

Ó luz que me cega e me parte —  
Tua sombra é minha arte.  
Na queda, eu te chamo em silêncio —  
E no fim, sou teu eterno.  

1 de out. de 2025

Mente Pequena

Em turbilhão a mente, noite e dia,
Ecoam vozes, em som de agonia.
Repetem-se as dúvidas, o medo e a dor,
Uma canção morta, sem cor e sem calor.

"Será que me odeiam?" - a pergunta que aflige,
"O que vão pensar?" - o pensamento que persegue.
"Se eu disser algo ruim..." - o receio constante,
Um ciclo vicioso, incessante e errante.

"Por que estás aqui? És um 'esquesito' sem par,"
A voz destrutiva, que insiste em machucar.
Congelado em gelo, o sangue não flui,
Preso num tormento, onde a alma se desfaz e destrói.

Tonturas de fome, dias sem beber,
A queda iminente, a vontade de morrer.
Desmaios e quedas, e o renascer sem fim,
A máscara de "normalidade", o fingir, o fingir sem fim.

No espelho a face, a fúria se revela,
Punhos cravados, a dor que se revela.
Mãos ensanguentadas, a pele insensível,
O corpo adormecido, o tormento terrível.

De volta aos outros, semblante vazio,
Um fantasma errante, refém do vazio.
A cabeça gira, um carrossel sombrio,
"És feio, inútil..." - o desprezo que oprime.

"Falsos amigos, hipócritas, vilões,"
A tortura interna, em mil e uma canções.
"Prostituta, fracasso, acabá-lo de vez..."
A voz da sombra, que o leva à infeliz e cruel vez.

À parede a face, rendido à escuridão,
Um copo quebrado, a fuga e a solidão.
No quarto trancado, o choro, a angústia atroz,
A lâmina afiada, que traz o adeus.

Cortar e queimar, até a carne sangrar,
Um corpo em dor, que não sente o lugar.
A dormência, o formigar, a anestesia fria,
Na busca da morte, a esperança morre um dia.

Melancolia profunda, um tom de pesar,
Em mente pequena, a luta por não mais lutar.
Um retrato da alma, em seu desespero,
Um grito silencioso, clamando por um novo querer...