18 de jan. de 2025

Espaço Negativo

Fratura repousa em seu penhasco,  
Acima de ondas que se quebram,  
Olhos perdidos em buracos no céu,  
Cada um, um corvo que observa.

A lua, com seu sorriso brincalhão,  
Engana os que a terra abraça,  
Empurra Fratura à ressaca,  
Onde sua essência se dispersa.

Torcendo, gritando, ele se despedaça,  
Séculos em queda, machado cansado,  
Na busca por vozes que o chamam,  
Emaranhado na dor do passado.

Mudando, fervendo, chorando em silêncio,  
Quebra-se sob pedras que o sostenham,  
Corpo levado pelo vento,  
Neve congelada que não cessa.

Um buraco vazio, em forma de corvo,  
Voa pelo cinza do horizonte,  
Esculpe listras da inexistência,  
Caminhando ao túmulo da fratura.

No bico, um pincel de esperanças,  
Garras que seguram latas de tinta,  
Dá vida a ondas congeladas,  
Pintando tributos ao que não fica.

Fratura jaz sob os mares profundos,  
Coração de vidro, pulsante e sutil,  
Um buraco vazio, ecoam os corvos,  
Formas que não se vão, eternas no anil.

Enterrado sob areias pesadas,  
Acorda de um sono que é tormento,  
Sussurros agarram mãos e cabeça,  
Tentáculos puxam-no ao fundo do tempo.

Tarde da noite, ela se empoleira,  
Em sua árvore, ao lado do Robin,  
Envolto em gelo, Fratura se retira,  
Silenciosos gritos de um sonho que fenece.

Um buraco vazio, em forma de corvo,  
Esculpe nada em seus sonhos perdidos.

11 de jan. de 2025

Paradeiro Desconhecido

Nas sombras de uma casa adormecida,  
Cortinas que emudecem histórias,  
Baldio e silente o passado se aninha,  
Entre indagações, vestígios de memórias.  

Ocupar o espaço do desconhecido  
É como dilatar um eco infindo,  
Onde há um intricado enigma,  
Um crime, talvez, sutil e indistinto.  

Caminhos se entrelaçam em labirintos,  
Ruas confusas, um desfile de incertezas,  
Cada esquina um convite, um convite à pena,  
Ao olhar das estátuas, eternas belezas.  

Entre as sombras da cidade em desuso,  
Sente-se o peso de um olhar divino,  
A presença sutil de um Jesus perdido,  
Que ao espiritual guia, se torna destino.  

O luar, despencando sobre pulsos cansados,  
Talvez indique a senda que se oculta,  
Na dança do tempo, um rastro apagado,  
Um convite ao desconhecido que resulta.  

Aquela esquina não é só um lugar,  
É o limiar de um sonho inexplorado,  
Onde, em meio ao murmúrio das almas,  
Desvela-se um caminho não esperado.  

Das sombras à luz, o que se esconde?  
O desfecho de vidas em versos perdidos,  
E no paradeiro que o tempo esconde,  
Vive o eco de passos, entrelaçados evidos.

10 de jan. de 2025

Para um Anjo

Falar é barato, palavras dançam suaves,  
Teus olhos, estrelas num céu de desejos,  
Um olhar profundo, doce como um verso,  
Perdido em páginas, onde tudo é imenso.  

Assim, tu és, um anjo entre humanos,  
Teus gestos delicados, como brisa em veranos,  
Estudando as dores que a vida traz,  
Mas, com a mesma mão, oferecendo paz.  

Teu coração, fonte infinita de amor,  
Dá vida aos aflitos, aos que buscam calor.  
Irmã ou mãe, não me peçam escolha,  
Teu ser é um abrigo, um laço que não se destrói.  

Em tempestades, és farol que ilumina,  
Aguarda comigo na sombra, que ensina.  
Teus cabelos, cascatas onde posso me perder,  
E em cada mecha, um novo amanhecer.  

Que anjo és tu, que vem me salvar?  
Um sussurrar do além, um toque no ar.  
Na dança do tempo, um amor sem fim,  
Agradeço ao destino por ter você em mim.  

Teço estas linhas, como um quadro em flor,  
Para celebrares teu eterno valor.  
Anjo, minha amada, de luz tão sutil,  
Em cada palavra, te guardo em meu perfil.  

Sussurros da Arte dos Girassóis de Vincent van Gogh

No coração de Arles, onde a luz dança em ouro,  
Vincent, o sonhador, tece o tempo com seu fervor.  
Em suas telas, girassóis em festa, um balé,  
Pétalas como línguas, murmurando ao sol seu querer.

São cinco a sinfonia de cores vibrantes,  
No calor da criação, florescem instantes.  
Amarelos em camadas, como um abraço profundo,  
Cada pincelada, um ritmo que ecoa no mundo.

O céu, um palco de nuvens pesadas e intensas,  
Onde a alma do artista encontra suas essências.  
O impasto revela anseios, sussurros, explosões,  
A arte transborda vida em infinitas emoções.

Oh, girassóis, em sua dança, o tempo faz parar,  
Vocês são a chama que se atreve a brilhar.  
Em cada detalhe, a paixão fervilhante,  
Um mosaico de luz, beleza constante.

A eloquência da simplicidade se ergue,  
Capturando a essência do dia que mergulha e segue.  
Sombras e brilhos, entrelaçados na sinfonia,  
Na paleta da vida, a eterna melodia.

Centurião

Cem poemas, um breve instante,  
Fruto da mente em incessante labuta,  
Menos de dez dias, um ciclo vibrante,  
Apaguei tudo, renasço na disputa.  

A fratura estilhaça, mas revela,  
Caminhos tortuosos e silêncios profundos,  
Sinta a raiva, lava que desvela,  
O peso das ondas, segredos fecundos.  

Sou apenas o início de uma jornada,  
Palavras dançam, fluem sem fim,  
No labirinto da alma, a voz entrelaçada,  
Em cada verso, um eco, um clarim.  

Não há fim para o que se tem a dizer,  
Na vastidão do tempo, continuará a pulsar,  
Como um centurião a vigiar a essência,  
A cada poema, disfarce a encarnar.